LIVRO - MEDITAÇÕES – MARCO AURÉLIO.





LIVRO - MEDITAÇÕES – MARCO AURÉLIO.

 

            O exemplar se refere as anotações pessoais do imperador romano Marco Aurélio escritas entre os anos de 170 até 180. Marco Aurélio (Roma, 26 de abril de 121 – Vindobona ou Sirmio, 17 de março de 180) foi o imperador romano de 161 até sua morte. Era filho de Domícia Lucila e do pretor Marco Ânio Vero, sobrinho do imperador Adriano. Seu pai morreu quando tinha três anos e ele foi criado por sua mãe e avô.

 

            Foi imperador romano durante dezenove anos e passou à História como um governante culto dedicado à filosofia. Assumiu o trono em um período de extrema instabilidade militar, sendo bem-sucedido na proteção das fronteiras contra os partas e os germanos. Faleceu em uma expedição militar contra os marcomanos, e os historiadores consideram sua morte o início do declínio do Império Romano.

 

Adriano adotou Antonino Pio, tio de Marco Aurélio, como novo herdeiro em 138. Antonino, por sua vez, adotou Marco Aurélio e Lúcio Vero, filho de Élio. Adriano morreu no mesmo ano e Antonino tornou-se o imperador. Marco Aurélio, agora como herdeiro do trono, estudou grego e latim com tutores como Herodes Ático e Marco Cornélio Frontão. Ele se casou com Faustina, a Jovem, a única filha de Antonino Pio, em 145, com quem teve pelo menos catorze filhos.

 

O período durante o qual Marco Aurelio reinou (161 d.C.-180 d.C) foi marcado por dificuldades de toda ordem: surto epidêmico e fome em Roma; insurreições internas; ameaças e ataques nas fronteiras de inimigos de Roma, principalmente os partos e os povos germânicos (quados, sármatas, marcomanos, iázigos). Embora tenha feito de Lucius Verus seu irmão adotivo e parceiro na administração do Império, isso de nada lhe valeu, pois o irmão era avesso às responsabilidades e preferiria simplesmente gozar a vida, mesmo porque compartilhava a fortuna do imperador. A corregência que instaurou com seu filho Cômodo, em 172 d.C., resultou em fracasso dada a índole deplorável desse único filho vivo, que viria a sucedê-lo no trono em 180 d.C.

 

Foi só em 175 d.C. que a derrota das hordas bárbaras se concretizou. No plano familiar, Marco Aurélio teve de sepultar Faustina, a filha de Antonino Pio que ele desposara quando fora adotado. Finalmente, o fatigado e debilitado imperador pode empreender uma viagem com a qual sempre sonhava: visitou os principais centros da cultura grega, que os romanos, a despeito de conquistadores da Grécia, haviam prudentemente preservado: Éfeso, Esmirna e, é claro Atenas. Nesta cidade, pérola inconteste da filosofia helênica, Marco Aurélio concedeu um apoio inestimável à manutenção das quatro grandes escolas da filosofia ocidentais do mundo antigo: a Academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, o Pórtico de Zenão e o Jardim de Epicuro.

 

Em 178 d.C., ocorreu novo ataque maciço dos povos bárbaros, dessa vez na Panônia; mais uma vez o imperador envolveu-se pessoalmente nos conflitos, coordenando as legiões romanas, apenas com o impulso do dever, pois o que mais ansiava era a paz. Entretanto, provações pungentes ainda estavam reservadas a ele: além dos horrores da guerra e do combate aos inimigos do império, uma epidemia veio ceifar a vida de seus comandados e soldados. Atingido por esse mal, o devotado imperador, que jamais gozara de vigor físico em toda sua vida, extenuando e condenado ao leito, exalou seu derradeiro alento em 9 de abril de 180 d.C., pouco antes de completar 59 anos.

 

Sugere na introdução do exemplar um visível tom de autoadmoestação, autocritica, confissão e, por vezes, desabafo perpassa todas as sessões dos doze livros que compõem o conjunto de reflexões, sugerindo o cunho estritamente pessoal de um diário atípico que não era para ser publicado. Acreditamos que Marco Aurélio não foi exatamente um filósofo estoico, mas sim um estoico, uma vez que levou à prática e em larga escala os princípios da doutrina estoica, tanto no âmbito pessoal como, na medida do possível, em sua intensa e árdua atividade como governante do Império Romano.

 

Para Marco Aurélio, a filosofia se reduz, a rigor, àquilo que Aristóteles classificou com ciências práticas, especialmente a ética, a política e a retorica. A maior importância da ética é claramente destacada, já que a prática das virtudes (aretaí), não só das ditas clássicas – sabedoria (phrónesis), justiça (dikaiosýnê), moderação (sophrosýne) e coragem (andreía) – como também das características estoicas – impassibilidade (apátheia), simplicidade (haplótes), benevolência (eyméneia), espírito comunitário e ressignificação ou aceitação (symphrónesis) – é o fundamento da existência de todo e qualquer individuo.

 

Sob esse ângulo, o estoicismo, segundo marco Aurelio, constitui uma forma de filosofia da práxis ou pragmatismo, ação, em que não há espeço nem motivo para nos ocuparmos das ciências teóricas ou especulativas, no dizer de Aristóteles, como a metafisica (ontologia). Apesar das alterações que efetivamente implantou em Roma e me todo o Império, Marco Aurélio não produziu nenhuma revolução (no sentido mais abrangente da palavra) na estrutura do mundo romano em suas instituições e valores.

 

O estoicismo não reconhece um deus como poder supremo, absoluto, transcendente e inacessível à razão humana. O universo, o Todo imanente é “Deus”, e os deuses da religião politeísta romana são suas emanações visivelmente representadas pelas artes sob forma humana. Marco Aurélio, portanto, recomenda insistentemente a devoção religiosa ou o culto aos deuses do Estado. Aconselha, ainda, o culto e acato, em nível individual a divindade tutelar.

 

As questões metafisicas favoritas da filosofia clássica, particularmente da filosofia platônica, estão evidentemente ausentes, como a imortalidade da alma individual e a metempsicose. Para o estoicismo, nós, indivíduos, somos partículas desintegradas e destacadas do universo (o Todo); ao morrermos, tudo o que se pode esperar é que sejamos, com a extinção da individualidade, reintegrados e reabsorvidos no universo. O estoicismo também envolve ceticismo, o que se pode verificar em várias passagens das Meditações: a ideia é que não é possível ter certeza da existência dos deuses, mas nem por isso devemos deixar de venerá-los.

 

A postura filosófica, por assim dizer, de Marco Aurélio está sintetizada em três princípios a serem seguidos: prática das virtudes (o que significa total repudio aos vícios e ao mal em geral); devoção religiosa (culto aos deuses e divindades tutelares e obediência as leis); em todas as ações virtuosas, ter em vista sempre o interesse da comunidade e não o individual.

 

Marco Aurélio a que se impõe como marca de grandeza e coerência é o fato de ele ter sido estoico e não simplesmente um filosofo ou teórico do estoicismo. Durante sua vida praticou largamente os princípios da filosofia de que se tornou adepto, com aqueles om os quais conviveu, isto é, familiares, parentes, escravos, assessores, subordinados de toda espécie, generais, soldados, representantes de outras nações, amigos e... inimigos. Em uma das reprimendas que dirige a si mesmo nas Meditações, ele diz: “Não se trata mais, em absoluto, da discussão em torno do que deve ser o homem bom, mas sim de ser o homem bom” (livro X, meditação 16).

 

sensível â condição precária da plebe romana e dos habitantes pobres das províncias, Marco Aurélio reduziu seus tributos e perdoou dívidas com o Estado dos cidadãos não pertencentes ao patriarcado. Chega a ser um paradoxo sublime que o homem mais poderoso do mundo ocidental daquela época jamais tenha sido seduzido pelo poder para humilhar e esmagar os menos fortes e fracos. Marco Aurélio considerava-se, na verdade, o maior servo do Império Romano, e administrá-lo para ele era um dever e uma missão, ainda que fosse um pesado fardo.

 

De Catulo, não despreza um amigo por ser acusado por ele, ainda que sua acusação seja eventualmente sem razão, mas me empenhar em fazê-lo retornar a sua disposição anterior; quanto a meus mestres, elogiá-los com ardor, como se deve lembrar de Domício e Atenodoto. (...) De meu pai, herdei a polidez e a paciência exercidas com calma e firmeza nas decisões tomadas meticulosamente; e a indiferença em relação à vangloria nas coisas chamadas honras; e o amor ao trabalho e à persistência; e a disposição para escutar aqueles que contribuem para o interesse comum. (Livro I - Meditação 12 e 16).

 

Ademais, o que são aqueles cujos pensamentos e vozes transmitem boa reputação ou fama...; e o que é o morrer? Se alguém olha a morte isoladamente, em si mesma, decompondo mediante a inteligência todas as partes que nela se mostram como fantasmas, vai concebê-la como sendo tão somente uma ação da natureza, uma ação da natureza que é pueril temer; e certamente ela não é apenas uma ação da natureza, mas ainda algo que promove o que é do interesse dela. (Livro II - Meditação 12).

 

Depois de curar muitas doenças, Hipócrates, ele próprio, contraiu doença e morreu. Os Caldeus anteciparam a morte de muitas pessoas para, em seguida, serem eles também colhidos pelo destino. Alexandre, Pompeu e Caio Cesar, após tantas vezes destruírem por completo cidades inteiras e retalharem, em campo de batalha, muitos milhares de soldados de cavalaria e infantaria também um dia partiram da vida. (Livro III - Meditação 3).

 

Toda coisa que é de uma maneira ou outra bela ou boa o é a partir de si mesma, tem seu remate em si mesma e não tem o louvor como parte de si mesma. Aquilo que louvamos não se torna algo nem pior nem melhopr pelo fato de ser louvado. Digo isso inclusive no que se refere ao que gente mais comum classifica de belo ou bom, por exemplo, as coisas materiais e os objetos artificiais; o que é de fato bom ou belo carece de algo mais? Não mais que a lei, não mais que a verdade, não mais que a benevolência ou a honra. (Livro IV - Meditação 4).

 

Tua perspicácia não tem sido objeto de admiração. Que seja. Há, porém, muitas outras qualidades em relação às quais estás impossibilitado de dizer: não tenho para elas nenhum pendor natural. Portanto. Basta que as adquira, visto que dependem totalmente de ti, a saber, a honestidade, a seriedade, a firmeza diante do trabalho árduo, a moderação quanto aos prazeres, a aceitação da própria sorte, o gênero de vida com poucas necessidades, a benevolência, a postura de um homem livre, a simplicidade, a ausência de frivolidade, a magnificência. (Livro V - Meditação 5).

 

Suponho que foi Heráclito que disse que, até aqueles que dormem, trabalham e auxiliam no que se produz no mundo. As pessoas colaboram de modos diferentes, e devemos adicionar inclusive aquelas que proferem queixumes e aquelas que tentam se opor aos acontecimentos e eliminá-los. O mundo, com efeito, necessita também desse tipo de pessoa. O que resta agora é saber é em qual dessas categorias de colaboradores pensas te posicionar. (Livro VI - Meditação 6).

 

A respeito do prestígio: observa os pensamentos daqueles que o buscam, o que são e as coisas às quais se furtam e aquelas a que perseguem. Consideram, ademais, que como os montes de areia depositados uns sobre os outros ocultam as areias anteriores, do mesmo modo, na vida as coisas que acontecem antes são rapidamente cobertas por aquelas que acontecem depois. (Livro VII - Meditação 7).

 

Alexandre, Caio e Pompeu: quem são estas pessoas comparadas a Diógenes, Heráclito e Sócrates? Com efeito, estas últimas examinavam as coisas, as causas, as matérias e suas diretrizes e fundamentos permaneceram inalterados; quanto às primeiras, porém, quantas coisas, na ignorância, tiveram de prever e de quantas coisas se tornaram escravos! Os seres humanos nasceram para a reciprocidade. Portanto, ministra-lhes um ensinamento nesse sentido ou suporte-os. (Livro VIII - Meditação 8).

 

Em meio aos animais irracionais, existe uma única alma repartida entre eles; também em meio aos racionais existe uma única alma fracionada entre os seres inteligentes, como existe uma única terra para tudo o que é telúrico, uma luz mediante a qual vemos a um ar que respiramos [em comum] com todos aqueles que veem e todos aqueles que respiram. (Livro IX - Meditação 9).

 

O fogo que se move para o alto por conta do fogo elementar também se predispõe a flamejar com todo presente aqui embaixo, a tal ponto que o resultado é toda matéria, mesmo sendo pouco seca, inflamar-se facilmente, pelo fato de estar menos misturada ao que poderia constituir um obstáculo a seu acendimento e inflamação. (Livro IX - Meditação 9).

 

Sempre que fores ofendido por conta de algum erro alheio, põe-te imediatamente no lugar da pessoa e ponderes se não incorres em um erro que guarda alguma semelhança com o erro dela, por exemplo, julgando ser um bem coisas como dinheiro, prazer, glorias medíocres e outras de mesmo feitio. (Livro X - Meditação 10).

 

A esfera da alma conserva-se semelhante a si mesma quando não se estendendo externamente nem se contraindo internamente, nem se dispersando, nem se dobrando, mas se iluminando com uma luz, que a capacita a ver a verdade, tanto a referente a todas as coisas como aquele que está dentro dela própria. (Livro XI - Meditação 11).

 

Convém que penses que em pouco tempo não estarás em lugar nenhum, nem entre essas coisas que agora vês, nem entre esses seres vivos atualmente existentes. Com efeito, todas as coisas nascem em função de se transformarem, evoluírem em novas direções e, então, se corromperem para que outras coisas venham a ser. Igualmente, se o conjunto de todas as ações constituintes da vida se detém na ocasião devida, não sofrerá com isso nenhum mal por conta dessa interrupção, tampouco aquele que fez cessar na ocasião devida essa sucessão de ações experimenta com isso algum mal. (Livro XII - Meditação 12).

 

A substância comum é uma, embora se dividindo em tantos quando inúmeros corpos. O sopro da vida é um, embora se dividindo em inúmeras naturezas e confinado individualmente. A alma inteligente é uma, embora pareça dividir. Entre essas frações ou partes distintas, existem algumas, a exemplo dos sopros vitais e de seus substratos, que são desprovidas de sensibilidade e não têm parentesco entre si; todavia, a força inteligente unificadora e o peso exercido sobre elas sustentam essas mesmas partes. (Página 154. Livro XII - Meditação 12).

 

Portanto terá acesso com a leitura do exemplar de vários aforismos que orientaram o governante pela perspectiva do estoicismo – o controle das emoções para que se evitem os erros de julgamento. Suas meditações formam um manual de comportamento ainda atual sobre como podemos melhorar nossas atitudes e o relacionamento com o próximo. Assim com a leitura do manual terá acesso a ensinamentos sobre as virtudes, a felicidade, a morte, as paixões e a harmonia com a natureza e a aceitação de suas leis, dessa feita, recomendado é o estudo desse interessante exemplar.

 

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Ferreira Avelar Advocacia (Iporá-GO. Israelândia-GO). Consultoria e Assessoria Jurídica!

 

Créditos das Imagens e algumas informações do texto.

 

Livro - Meditações – Marco Aurélio.




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